2 de outubro de 2008

grito interno.


Mas se eu gritasse uma só vez que fosse, talvez nunca mais pudesse parar.
Se eu gritasse ninguém poderia fazer mais nada por mim;
enquanto, se eu nunca revelar a minha carência, ninguém se assustará comigo e me ajudarão sem saber;
mas só enquanto eu não assustar ninguém por ter saído dos regulamentos.
Mas se souberem, assustam-se, nós que guardamos o grito em segredo inviolável.
Se eu der o grito de alarme de estar viva, em mudez e dureza me arrastarão pois arrastam os que saem para fora do mundo possível, o ser excepcional é arrastado, o ser gritante.

Meu grito foi tão abafado que só pelo silêncio contrastante percebi que não havia gritado.
O grito ficara me batendo dentro do peito”.

."A Paixão Segundo G.H. - Clarice Lispector. "