12 de fevereiro de 2010

Doloridos devaneios, inconsolável gastrite nervosa, parte 2.

As pessoas chegavam, estranhamente felizes para uma manhã com sabor de desconhecido. Elas entravam porta adentro vestindo seus melhores sorrisos, outras com expressão ainda sonolenta, porém com o mesmo entusiasmo. Mas todas chegavam, olhavam pra ela, e apagavam seu rosto. Era uma menina esquisita, com cara de pouquíssimos amigos. Cara de amigo nenhum. Ninguém parecia se importar. Talvez não quisessem mesmo dar importância. Aos poucos ela foi invadida por uma sensação de abandono, desolação. Sempre se sentira deslocada ao redor de muitas pessoas, mas desta vez, a sensação de que não pertencia àquele lugar estava sendo ainda mais devastadora. Que vontade de sumir. Lenta e dolorosamente. Queria evaporar feito fumaça, sem deixar vestígios, sem deixar pegadas. Só queria - e precisava - sumir. Que tormento ela sentiu naqueles minutos que precediam a primeira aula do ano. Ainda havia tanta coisa pra sentir, pra aprender. Mas ela não tinha ânimo pra viver tudo aquilo. Vivia como que empurrada, arrastando-se pelo chão, enquanto os outros corriam saltitantes. Era uma grande desgraça humana quase todo dia, mas se recusava a desistir. Desistira de si mesma há algum tempo, mas não desistiria de chegar a algum bom lugar. Nem que precisasse se entupir de pílulas. Nem que precisasse se entupir de remédios, morrendo parcialmente. Bom poder experimentar algo como morrer, sem ter que morrer. Venceria o desânimo, mesmo com aquele desgosto pela vida parecido com o de quem escreve numa folha de papel amassada.

E ainda sentia o estômago queimando. Maldita gastrite inconveniente. Era tão desconfortável o modo como seus nervos interferiam no seu bem-estar. Mesmo que esse bem-estar estive ausente durante tanto tempo. Sentia ânsias de vômito, mas sempre conseguia controlar. Geralmente era só tentar se acalmar. Funciona quase sempre.

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